terça-feira, março 29, 2011

E a sustentabilidade cai no buraco negro da máfia política carioca...

No dia 17 de março de 2011 aconteceu no IAB-RJ um Encontro com Raquel Rolnik para discutir o projeto Porto Maravilha. Em sua fala, a arquiteta e relatora da ONU para questões de moradia adequada explicou que num momento anterior à posse do atual prefeito, o governo federal se envolveu com o projeto do Porto do Rio, buscando a melhor forma de participar do mesmo. Como era proprietário de grande parte dos terrenos, o governo federal propunha, então, uma administração do projeto conjunta com a Prefeitura do Rio, através da constituição de uma empresa pública compartilhada. A intenção do governo federal, então, era a de destinar uma parte significativa dos terrenos disponíveis para a construção de moradias sociais.

No entanto, em algum momento se soube que a empresa OAS andava a pesquisar um modelo econômico e de gestão para a área do Porto do Rio. E quando ocorreu a mudança de gestão municipal, o novo Prefeito abandonou a proposta de criação de uma empresa em conjunto com o governo federal e optou pela criação de uma empresa municipal, a Cedurp. Em seguida, foi realizada uma licitação para definir a companhia que executaria as obras do Porto Maravilha, de acordo com o modelo desenvolvido pela OAS. E justamente a OAS, associada à Carioca Engenharia e à Odebrecht venceu esta licitação. Assim, a empresa irá executar o projeto de acordo com o modelo que ela mesma desenvolveu e que foi assumido pela Prefeitura do Rio.

Segundo Raquel Rolnik, o modelo em vigor no projeto Porto Maravilha não foi pensado como aquele que seria o melhor do ponto de vista urbanístico ou do ponto de vista da cidade, mas sim aquele que viabilizaria o negócio, a lógica financeira do projeto. O consórcio formado pelas empresas é remunerado pela Prefeitura para fazer as obras. Mas ele ganha de novo ao fazer estas obras e terá ganhos com a valorização dos terrenos. Após a viabilização das questões fundiárias, a Caixa Econômica entrará como sócia na incorporação dos futuros edifícios, viabilizando tal operação. Caso algo dê errado nessa lógica financeira, os prejuízos serão cobertos com recursos públicos municipais. O projeto Porto Maravilha revela-se, assim, em toda a sua inteireza: a abertura de mais uma frente de expansão para os investimentos do capital financeiro, do capital excedente internacional.

Além de todos os problemas aqui apontados, estariam ocorrendo problemas de ordem moral e legal. Os terrenos federais que estão sendo repassados à Prefeitura para que esta os coloque no mercado estariam sendo subavaliados. A diferença de avaliação seria da ordem dez vezes menos os reais valores dos mesmos. Os laudos de avaliação estariam deixando funcionários que os assinam em situação vulnerável frente a uma eventual fiscalização do Tribunal de Contas. Um bom exemplo dessa distorção seria a avaliação feita para a desapropriação do prédio onde ocorre a ocupação Maria Conga, também na Área Portuária, a qual seria bem mais alta que aquelas praticadas nos terrenos que interessariam ao projeto Porto Maravilha.

Ao final, Raquel Rolnik traçou um paralelo entre o que estaria ocorrendo na Área Portuária do Rio de Janeiro com aquilo que estaria ocorrendo nas áreas no entorno da Sala São Paulo, na capital paulista. Lá, como aqui, a área é tratada como um vazio populacional e um vazio de história e cultura, adotando-se algo que se poderia comparar à solução final: o arrasamento dessas áreas para um recomeço em bases palatáveis ao mercado. Assim, a oposição democrática a tais atos no Rio e São Paulo estariam frente à responsabilidade de barrar um modelo perverso, que se pretende que seja posteriormente espalhado por outras cidades brasileiras.

Socialmente injusto, economicamente inviável (contando a real possibilidade do governo realizar o projeto sem tirar do dinheiro do povo) e ambientalmente incorreto ( o Porto vai ser construído numa área de mangue, sem respeitar a vegetação nativa...), o projeto parece que tem um timão para fazê-lo saur do papel. Que tal reivindicarmos que o dinheiro do povo seja usado em nosso benefício e não sirva de margem para as "cagadas" governamentais?

Afinal, o Porto é Maravilha para Quem?

Informações do site: http://portomaravilhaparaquem.wordpress.com/2011/03/18/encontro-com-raquel-rolnik-no-iab-rj/

sexta-feira, março 11, 2011

Uma reflexão sobre o desenvolvimento da nossa Cidade Maravilhosa

Artigo de Cecília Herzog

Mais uma vez, fico me perguntando em que mundo e em que século o Rio de Janeiro está. Tenho impressão que por aqui a coisa continua igual ao século XX, especialmente em relação às grandes obras de “higienização” e enfoque rodoviarista, com as imensas transformações na paisagem: desmontes e aterros, demolições em massa de áreas históricas – que chegou ao ápice com o desaparecimento do Palácio Monroe. Tudo para dar lugar a novos prédios horrendos (em sua maioria) e carros, muitos carros. Obras de porte gigantesco, pagas pelo contribuinte que foi perdendo sua cidade, sua identidade, aos poucos sem sentir. Fico pensando o que aconteceria se a Avenida Rio Branco tivesse sido preservada, teríamos um centro histórico de fazer inveja. Mas não, o que temos hoje? Um centro desumano, entupido de ônibus, encoberto por arranhacéus, onde os pedestres se amontoam, e quando chove alaga.
A minha percepção é que estamos repetindo a história. Apenas uma parte do elevado da perimetral vai abaixo para simbolizar a renovação da cidade, construir um marco para esse momento histórico. Será que é a melhor escolha? É isso mesmo que a cidade precisa? Um túnel pra esconder os carros a um custo imenso?  Vias expressas para carros e ônibus sendo construídas sobre áreas alagáveis, onde ainda existem ecossistemas nativos insubstituíveis? Esses investimentos não poderiam ser empregados em transporte de massa, educação, saúde, conservação de áreas ecológicas de importância vital para a sustentabilidade da cidade? E as mudanças climáticas, que impacto causarão? Como a cidade está se adaptando? E o nível do mar? Os novos projetos estão prevendo os cenários possíveis? Onde está sendo investido o nosso dinheiro? E como?
O crescimento econômico a qualquer custo custa caro. No presente e no futuro. Obras espetaculosas se sucedem a uma velocidade impressionante, a administração está mostrando serviço. O Brasil recebeu mais 3,3 milhões de veículos em 2010. Esse é o outro lado da mesma moeda: agora é preciso dar espaço para que tentem circular. A transferência da responsabilidade da mobilidade coletiva para o indivíduo repete o modelo da segurança. Uma vez que o poder público se exime de dar soluções de continuidade para o coletivo, cada um se vira como pode. Quem pode, assim que pode compra um carro para resolver o seu problema e cai em outro: fica engarrafado. Os custos são incalculáveis. Não só as emissões de gases estufa, mas as perdas de produtividade, o aumento do nível de estresse, de ruídos, de perda de qualidade de vida e saúde, do aumento da obesidade. Quase metade dos brasileiros está obesa, não apenas porque comem o que não lhes faz bem, mas porque ficam sentados cada vez mais. Isso tudo custa, e muito!
Existem outras soluções, e muita gente sabe disso. Mas por que será que esse é o rumo que a cidade está tomando? Os moradores da cidade no futuro irão lamentar as perdas de hoje e nada poderão fazer para reverter o que está sendo feito nesse exato momento? Como hoje nada podemos fazer para restabelecer os locais históricos e os edifícios demolidos, as áreas que poderiam acomodar as águas em dias de chuvas fortes, os nossos rios canalizados e poluídos e as florestas desmatadas nos séculos anteriores.
São tantas as oportunidades que temos hoje de valorização de nossos ativos sociais, culturais, paisagísticos e ecológicos, para transformação real em uma cidade do século XXI, que dá uma imensa tristeza ver o rumo que está sendo adotado pelos nossos tomadores de decisões. É hora de reflexão profunda sobre que Rio de Janeiro nós queremos, para que nossos descendentes não tenham do que se lamentar no futuro.

Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/11.127/3769

quinta-feira, março 10, 2011

Faça acontecer a cultura - Viva a colaboração!!

A criação coletiva ou construção colaborativa pode fazer prosperar milhares de projetos que, sozinhos, não teriam como ir adiante. Essa ideia de fazer junto, colaborar para o sucesso, inicialmente, de outro, mas que tem o objetivo de construir mais riquezas para todos é diferente do que é proposto e aceito na sociedade atual.

Por isso me surpreendi ao saber de 2 iniciativas de gestão de projetos culturais/ criativos que têm como premissa a colaboração financeira de qualquer interessado para que o projeto se realize, via web. Uma forma feliz e participativa de investimento que merece atenção e fomento!!

Produrama e Catarse têm tudo para serem incríveis e fazerem acontecer muita coisa boa. Uma catarse cultural produrama criatividade pelas mentes brilhantes da cidade,
do país e do mundo. Vale a pena conferir!

http://www.produrama.com.br/

http://catarse.me/

Saúde, globalização, tecnologia e sustentabilidade

Recebi esse vídeo incrível de um amigo essa semana que fala sobre o desenvolvimento de 200 países em 200 anos, em termos de saúde, expectativa de vida e riqueza. Tudo mostrado com tecnologia, em gráficos e muito atrativo.

O caminho do mundo e o papel que alguns países tiveram que ter de correr atrás de um melhor desenvolvimento tornou possível que pessoas dos diversos continentes tenham uma qualidade de vida semelhante. Conta-se aí o grande papel da globalização e da tecologia na disseminação de boas práticas, permitindo a troca de experiências entre países mesmo longínquos.

Um passo importante para a configuração do mundo hoje, do desenvolvimento sustentável no mundo e para a formação dos "BRIC Countries". Vale a pena ver!

O desenvolvimento sustentável nas questões governamentais: muita teoria e... onde está a prática?

Tenho mostrado exemplos de empresas que têm ações ligadas à sustentabilidade, tentando ( e às vezes conseguindo) realizar processos de gestão compartilhada e ações de responsabilidade social sem ser meramente assistencialistas. Considero essas ações muito importantes hoje, num mundo onde a sustentabilidade como forma de vida e filosofia de existência quase não existe. Penso que é importante divulgar e discutir os bons exemplos a que tenho acesso para conscientizar o máximo de pessoas possível.

Essa conscientização é o caminho para que tenhamos, também aqui no Brasil, uma população que entenda o que é sustentabilidade de verdade, na sua forma mais simples e verdadeira (tentei colocar a ideia em um post anterior - Sustentabilidade: o que é isso),  que saiba cobrar das autoridades governamentais políticas que tenham o cidadão como principal interessado e que respeitem nossos direitos a uma excelente qualidade de vida. E a comunicação pode ser uma grande ferramenta de transformação nesse sentido.

Hoje, na Inglaterra,  corre uma grande discussão sobre os novos rumos do Comitê de Desenvolvimente Sustentável que vai deixar de ganhar recursos do governo ainda esse ano. Não tendo como se bancar, o Comitê está buscando uma nova forma de se manter, mas conta com o apoio total dos cidadãos comuns, pois este é formado pela sociedade civil. Uma população que se preocupa em discutir e disseminar a sustentabilidade nacionalmente e incluir, de forma enfática, as ações de sustentabilidade nas políticas do país.

Parece que o novo primeiro ministro inglês tem uma opinião diferente sobre a inclusão da sustentabilidade nas metas do governo. Apesar de ter sido feito um documento de inserção das premissas sustentáveis no governo inglês (http://sd.defra.gov.uk/gov/vision/), membros do Comitê de Desenvolvimento Sustentável acham que não há uma preocupação em envolver os cidadãos comuns na questão da sustentabilidade. Isso está sendo combatido também pela Futerra, a agência de comunicação inglese totalmente voltada para a disseminação da sustentabilidade pelo mundo, http://www.futerra.co.uk/news/442, além dos cidadãos comuns que estão fazendo parte dessa discussão. A proposta de agência é criar um imposto de contribuição para a sustentabilidade, onde todos tenham que pagar e estejam envolvidos na questão. (http://www.bbc.co.uk/news/science-environment-12620647)

Agora, pense como seria legal se os brasileiros também tivessem essa força de colocar em discussão questões estruturais com o governo. Acho que temos alguns representantes brasileiros que fazem essa pressão, como é o caso da ONG Inverde es seus membros - http://inverde.wordpress.com/. Mas que força temos, se optamos por não nos corrompermos? O que será discutido no Rio+20 que vai acontecer aqui no Rio de Janeiro no próximo ano? Deveríamos ter uma população mais engajada nas questões de desenvolvimento sustentável após 20 anos da Eco-92, né?