terça-feira, janeiro 31, 2012

O uso de sacolas plásticas e a falta de educação para o consumo

O governo da cidade de São Paulo lançou uma capanha para reduzir o uso de sacolas plásticas... Pois bem, a campanha sugere que em vez das velhas sacolinhas plásticas, muitas das vezes biodegradáveis, sejam substituidas por outras sacolas retornáveis... Olha que beleza!!
Se o problema chave da questão é o consumo exagerado que gera, cada vez mais, resíduos (e isso está em muitas pesquisas no mundo todo), por que é que estes governo não sugere uma reeducação no consumo de tais materiais, ou até do que é carregado nas sacolas?
Hoje em dia ouve-se tanto falar em consumo consciente e é uma corrida contra a maré achar propostas como essa campanha de São Paulo. Mas entendo que, como sempre, investir numa reeducação das pessoas dê mais trabalho para os grandes estrategistas do Governo de São Paulo. Como sempre acontece no Brasil, é mais fácil investir em políticas paleativas do que nas que podem gerar uma transformação de fato.
Segue abaixo um artigo da Greenbest com dados reais e reflexões sobre o uso das sacolas plásticas hoje.

Contextualizando o debate sobre sacolinhas

por Revista Sustentabilidade, terça, 31 de Janeiro de 2012 às 08:57
Está rolando na Internet um artigo publicado na Folha de S.Paulo com os seguintes dados sobre as sacolinhas que são no mínimo questionáveis. Gostaria de colocar-los em contexto para podermos entender o que está em jogo:
  1. Os supermercados vão embolsar R$500 mil que gastavam com sacolinhas
  2. Os gastos mensais com sacos plásticos de lixo chegarão a R$75,00
  3. A perda de empregos diretos e indiretos será de 100 mil vagas
Agora, contextualizando estes dados e ouros rolando por aí:
  1. O gasto anual dos supermercados com sacolinhas é sim de R$500 mil anuais, mas é diluído no faturamento do setor de mais de R$200 bilhões e representa 0,25% do faturamento em um ano. Ou seja, irrisório em termos de ganhos para os supermercados. Não obstante isso, deveriam investir isso em outros benefícios para os consumidores como doando sacolas retornáveis nos primeiros meses do acordo. Seria mais eficiente.
  2. Os gastos mensais com sacos de lixo só chegariam a R$75 mensais se uma família produzisse mais de 4000 litros de resíduos por mês! Um pacote de 60 sacos de lixo de 15 litros custa até R$17. Ou seja, para se gastar R$75 é preciso comprar e utilizar mais do que quatro pacotes. Pelos dados da Abrelpe, cada brasileiro produz cerca de 1 quilo de lixo por dia. A conta não fecha.
  3. Segundo dados da Abiplast – associação dos transformadores de plástico – cerca de 350 mil pessoas são empregadas no setor, que gira um faturamento anual de cerca de R$44 bilhões. Se as sacolas representam um pouco mais de 1% do faturamento do setor de transformação, como que se emprega 100 mil pessoas direta ou indiretamente só para produzir, vender e distribuir sacolinhas? De novo, a conta não fecha.
  4. Os sacos representam 0,2% em volume dos lixões e aterros. Verdade, mas o problema não é este: o problema está na quantidade de sacolas que não é coletada e distribuída indiscriminadamente por aí e o dano que elas causam ao meio ambiente, mesmo nos aterros e lixões, ao não se degradar e soltar outros químicos e aditivos que se infiltram no solo.
  5. O lixo vai ser jogado na rua e gerará mais doenças. Verdade se realmente acontecer, mas duvido muito, pois o lixo já é disposto incorretamente na maioria das grandes cidades e principalmente nos bairros menos abastados. O governo paulista deveria buscar termos de ajuste das empresas de limpeza pública para garantir que isso não aconteça e incluir os resíduos dentro do conceito de saúde pública, pois de cada real gasto com coleta de resíduos adequada, reduz-se quatro no orçamento da saúde pública.
  6. Gasta-se 2,5 litros para lavar sacolas retornáveis. Não faz sentido. Este uso de água pode ser diluído na limpeza doméstica geral: basta colocar a sacola para lavar na máquina com outros tecidos ou passar um pano com álcool após cada uso, se realmente for um perigo à saúde.
De fato, concordo que o acordo entre os supermercados e o governo de São Paulo foi mal pensando e mal estruturado. Ficou uma percepção, entre os consumidores, de que estão sendo lesados, e estão. Se os envolvidos tivessem parado para ouvir meia dúzia de especialistas em sustentabilidade, o setor plástico (por que não) e o público, talvez tivessem melhor elaborado a campanha.

Eliminar as sacolas em si não servirá tanto à causa ambiental diretamente, isto todo mundo concorda. Mas é uma medida educativa para pensar melhor sobre o uso do plástico e geração de resíduos na nossa sociedade e, principalmente, repensar o hiperconsumismo. A eliminação de sacolas plásticas gratuitas deveria ser aliada a políticas públicas de compostagem, de campanhas para a redução do consumo supérfluo, da promoção do comércio local e a políticas que regulam o uso do plástico para fins mais nobre s duradouros.

Precisamos pensar melhor no jeito que consumimos o plástico nas embalagens, com um imediatismo absurdo. O plástico tem seu papel na sociedade e é extremamente útil, mas se ele demora 300 anos para se decompor deveríamos no mínimo usar este material para fins duráveis, ou seja, produtos que necessitem durar décadas, se não séculos.

Aqui vão algumas sugestões para os próximos passos do programa 'Desafogue o Planeta':
  1. Transferir estes R$500 milhões anuais para custear pesquisa e projetos de compostagem distrbuídas e hortas comunitárias nas grandes cidades para abastecer os supermercados e para pesquisar outras embalagens com usos duradouros do plástico, visando a total reciclabilidade com perda zero nas cadeias de logística e de logística reversa, incluindo aí um sobrepreço para o material descartado para estimular a reciclagem
  2. Fazer um phase-out da venda de outros produtos de plásticos descartáveis e sem cadeia de reciclagem como copos, pratos, mexedores de líquidos e talheres de plástico e outros usos não adequados do plástico.
  3. Fazer uma ampla campanha contra o consumo supérfluo e de conscientização sobre embalagens.
No fundo, o setor plástico está jogando dinheiro fora para tentar evitar o inexorável que é o fim do uso do plástico como conhecemos. A nova geração já será bem mais consciente e se tiver a informação adequada buscará soluções mais inteligentes sem cair na ladainha de que sacolas plásticas são geradoras de emprego, menos danosas ao meio ambiente que sacolas retornáveis e outros argumentos veiculados fora de contexto. Afinal, a busca pela sustentabilidade é complexa, transversal e parte do pressuposto de que os conceitos econômicos usados até agora estão errados e necessitam ser mudados.

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